O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve manter a Selic, a taxa referência para os juros da economia, em 15% ao ano nesta quarta-feira (10). Já o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) possivelmente reduzirá a sua taxa em 0,25 ponto percentual, para o intervalo entre 3,5% e 3,75%. Hoje é a última superquarta do ano, quando ambos os bancos centrais decidem quais serão os juros de referência para os investimentos e os empréstimos.
No Brasil, é praticamente consenso que os juros seguirão no nível mais alto desde 2006 e que a manutenção será a quarta seguida. A decisão da autoridade afeta de maneira prática a vida dos brasileiros de duas formas: de um lado, os financiamentos e empréstimos devem continuar caros, mas de outro, o retorno da renda fixa deve continuar bastante atrativo.
O Termômetro do Copom, uma ferramenta do Valor Investe que mostra as expectativas dos investidores para os próximos movimentos do colegiado, com base nos contratos de opções negociados na bolsa, aponta que 97% esperam manutenção da Selic em 15% ao ano no encontro desta quarta-feira.
A grande expectativa agora é se o comitê deve indicar um corte para janeiro, com a retirada da comunicação do aviso de que a taxa tem que ficar alta por “um período prolongado”. Apesar do cenário de desaceleração da economia e da melhora da inflação, a cautela dos diretores do Banco Central, em especial do presidente, Gabriel Galípolo, mantém o mercado em dúvida sobre possíveis sinalizações em relação ao rumo dos juros no comunicado da decisão desta quarta-feira.
A expectativa de 54% do mercado é que a redução da Selic no Brasil comece em janeiro, mostra uma pesquisa do Valor que ouviu 112 instituições financeiras e consultorias. Já 44% preveem que os cortes serão adiados para o encontro de março ou depois.
Na análise de Mario Mesquita, economista-chefe do banco Itaú, o Copom deve indicar que a estratégia atual está adequada, mas deve enfatizar a necessidade de paciência e serenidade, com passos futuros condicionados ao avanço dos dados da economia e da inflação. "Para os próximos passos, a sinalização tende a permanecer flexível, sem compromisso explícito com o início do ciclo de cortes, mas reconhecendo que ajustes poderão ser realizados conforme o cenário evolua", afirma.
Ele espera que a redução de juros comece em janeiro, levando a Selic para 12,75% ao ano durante 2026. "Para que isso se concretize, será importante que o comitê ajuste a comunicação no encontro de dezembro, eliminando o trecho que afirma que 'não hesitará em retomar o ciclo de ajuste, caso julgue apropriado' e qualificando em que estágio o referido 'período bastante prolongado se encontra", diz.
Na avaliação de Mesquisa, o risco de postergação do início do ciclo de cortes ainda existe: uma surpresa positiva na atividade econômica ou no mercado de trabalho, ou um dólar alto, podem adiar o início da redução da taxa.
Nos Estados Unidos, o Fed pode reduzir os juros em 0,25 ponto percentual, para o intervalo entre 3,5% e 3,75%, pela terceira vez seguida. A decisão nos EUA impacta também a vida dos brasileiros: é um incentivo a mais para a autoridade brasileira começar a cortar a Selic no próximo encontro ou na depois.
Nos Estados Unidos, a expectativa é que as pistas de que a inflação e emprego enfraqueceram influenciem o Fed a diminuir hoje as taxas. Os investidores embutem nos preços uma probabilidade de 89% de uma redução de juros, aponta o FedWatch da CME.
A expectativa de redução das taxas tende a favorecer os emergentes como o Brasil, porque diminui a atratividade dos ativos americanos e estimula que os recursos dos investidores estrangeiros entrem no Brasil. Esse movimento normalmente reduz a pressão sobre o dólar e ajuda a bolsa brasileira, porque cria um ambiente mais favorável para as reduções de juros começarem no Brasil.