O pix automático será lançado hoje (4) pelo Banco Central. Um evento em São Paulo, a partir das 9h30, contará com a presença do presidente do BC, Gabriel Galípolo, entre outros diretores, e representantes do setor de meios de pagamento. A operação do pix automático promete simplificar a forma como são feitos os pagamentos de contas recorrentes. A chegada da funcionalidade, no entanto, acontece só em 16 de junho.
O BC explica que o pix automático permite que pagamentos recorrentes, como contas de luz, água, condomínio, escola, academia, serviços por assinatura, possam ser feitos dando uma autorização prévia pelo app da conta, sem precisar autorizar cada pagamento. Cabe às empresas oferecerem a modalidade em seus sites ou na loja física.
Segundo o BC, empresas de qualquer segmento do mercado e de qualquer porte que necessitem de pagamentos periódicos poderão utilizar o novo mecanismo.
São cinco caminhos possíveis para pagar com o pix automático.
O usuário que pagar com pix automático autoriza aquela cobrança (academia, escola e serviço de streaming) uma única vez e define as regras:
É possível usar o pix aumomático para pagamentos com vencimentos semanal, mensal, trimestral, semestral ou anual. Não há prazo máximo para as cobranças futuras e nem um número máximo de agendamentos;
O valor pode ser fixo ou variável. É possível delimitar um valor máximo a ser gasto com aquela conta. Ao mesmo tempo, a empresa que recebe o pagamento também pode definir um valor. Uma academia, por exemplo, pode estabelecer o valor mínimo de R$ 50 se esse for o seu plano mais barato;
Por padrão, a cobrança é agendada entre 2 a 10 dias antes da data de vencimento;
Duas tentativas de cobrança são feitas no dia do vencimento. Caso não haja saldo na conta, três novas tentativas posteriores ocorrem, conforme regras definida pelo Banco Central. Se o pagamento ocorrer com atraso, os juros e multas são cobrados no pagamento seguinte.
Quem recebe o pagamento é sempre uma conta PJ;
O usuário pode escolher receber ou não notificações no agendamento (para conferir se o valor está correto e se terá saldo suficiente e quando o pagamento é efetivado) e desabilitar o uso de linha de crédito pré-aprovada, como o cheque especial. No dia do pagamento, o banco efetiva o pagamento da cobrança de forma automática e de acordo com as regras definidas na autorização pelo usuário.
Por tudo isso, o pix automático se diferencia do pix agendado recorrente, lançado em outubro. Embora ambos permitam pagamentos programados, no pix agendado recorrente o agendamento é sempre de valores fixos em uma data futura. É usado para transferências entre pessoas (mesada para o filho, por exemplo). A iniciativa do agendamento parte de quem vai pagar.
O pix automático é gratuito para pagamentos feitos por usuários pessoa física e pessoa jurídica. É possível cancelar as cobranças a qualquer tempo.
O Banco Central cita a facilidade de uso (para quem vai pagar e para quem vai receber) e o acesso ao pix por meio de múltiplas opções (bancos, cooperativas, instituições de pagamento, iniciadores de pagamento etc), como alguns dos benefícios para quem usar o pix para pagar uma conta recorrente.
Na ponta das empresas, o meio de pagamento tem potencial de aumentar a base de clientes, tanto pelo contingente de usuários (são mais de 160 milhões), quanto por dialogar com os clientes que não usam cartão ou boleto. Além disso, há a perspectiva de redução da inadimplência por esquecimento, já que a cobrança é automática.
Há ainda o há o menor custo operacional: basta contratar o serviço de uma única instituição, seja um banco ou uma Iniciadora de Transação de Pagamento (ITP). Essa é uma mudança importante do atual modelo de débito automático, que exige convênios específicos entre as empresas e os diferentes bancos.
Caso algum problema no uso do Pix Automático aconteça, o Banco Central diz que é possível usar o Mecanismo Especial de Devolução (MED), através do banco onde se tem conta.
Para que tudo isso entre em operação no próximo dia 16 sem maiores dificuldades, uma série de testes foi estabelecida pelo Banco Central. Os testes começaram em 28 de fevereiro e se estedem até 6 de junho.
O BC diz que os testes estão evoluindo conforme as expectativas e estão sendo avaliados aspectos como a conectividade entre as instituições, a implementação técnica das APIs (interfaces de programação), o atendimento a requisitos de experiência do cliente (UX), entre outros.
O Banco do Brasil foi a primeira instituição financeira a completar a fase de testes, com 100% de aderência. A funcionalidade está disponível para todos os clientes pessoa física como usuário que paga e jurídica como usuário que recebe. Para utilizar o serviço, a empresa deve ativar um convênio com o BB. A gestão dos recebimentos é feita por meio do internet banking BB Digital PJ, via API (interfaces de programação), ou por meio de arquivos padronizados.
Segundo o banco, as empresas que recebem o pagamento terão prazo de 90 dias antes da data do débito para envio da agenda de pagamentos (o padrão do BC prevê de dez a dois dias antes do vencimento da parcela.) E em caso de saldo insuficiente na conta do usuário pessoa física, o BB fará três tentativas de cobrança de forma automatizada.
Em nota, Dione Cordioli, gerente executiva de Meios de Pagamentos do BB, diz que dessa forma, as empresas poderão programar suas cobranças com mais antecedência, o que facilita a gestão em períodos específicos, como férias coletivas ou recesso, e garante o envio das agendas de pagamento mesmo em períodos de menor operação.
O Itaú também está ofertando uma solução com experiência similar à do pix automático para clientes Itaú (empresas e pessoa física). Quando a funcionalidade chegar oficialmente no dia 16, os clientes pessoa jurídica terão um prazo maior do que os 10 dias exigidos pelo Banco Central para fazer os agendamentos, sem uma quantidade limite de agendamentos.
Segundo o Itaú, entre os setores que mais poderão se beneficiar com o pix automático (consumo, financeiro, educação e saúde), existe um potencial de aumento de até 30% nos pagamentos ao utilizar uma solução de recorrência – quando comparado aos pagamentos avulsos via boleto e QR Code.
Angelo Russomanno, diretor de pagamentos para pessoa jurídica do Itaú Unibanco, diz que o potencial é ainda maior em segmentos específicos.
"Nossos dados mostram, por exemplo, que empresas de utilities – água, energia, gás, saneamento, telecom – têm 61% dos pagamentos recebidos de forma avulsa, e 39% via débito automático ou no cartão de crédito. Além disso, há ganhos na gestão. Nossos dados também apontam que as empresas do varejo despendem, em média, uma hora diária para conciliação e fazem em torno de 580 operações de pagar e receber por mês”.
As Iniciadores de Transações de Pagamento (ITPs), as instituições que são reconhecidas pelo BC para iniciar pagamentos em nome do usuário e fazer a “ponte” dos valores entre as contas dos usuários os bancos, também estão sendo testadas para dar o comando do pix automático. Nesse caso, os testes são realizados pela Estrutura de Governança do Open Finance, o sistema financeiro aberto, com acompanhamento do Banco Central, e acontecem em ambiente que simula as condições de uso real. Isso significa que foram criados produtos fictícios que estão sendo testados por uma base restrita de clientes definida de forma prévia.
No Open Finance, o período de testes vai até 15 de junho. Participam 13 instituições iniciadoras de pagamento e todas as detentoras de conta participantes do Open Finance.
Para pagamentos com pix automático nos trilhos do Open Finance, o usuário sinaliza interesse no pagamento direto no app/site da empresa que vai receber o pagamento e é redirecionado para app do banco. Ou seja, não é necessário fazer a leitura de QR Code ou receber código do Pix Copia e Cola para inserir no app do banco.