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Selic sobe 0,25 ponto, a 10,75% ao ano, e ritmo das próximas altas fica em aberto

Data:
18/9/2024
Autor:
Isabel Filgueiras
Fonte:
Valor Investe
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O Comitê de Política Monetária (Copom) acaba de anunciar aumento de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros. Com a mudança, a Selic sai dos 10,50%, patamar estacionado desde maio, para 10,75% ao ano. A decisão foi unânime.

O comunicado já sinaliza novas altas, mas deixa em aberta possibilidade de acelerar o ritmo, conforme o trecho: "O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos". (Leia o comunicado na íntegra no fim do texto)

De acordo com o texto, o cenário, marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, demanda uma política monetária mais contracionista.

Este é o primeiro movimento de aperto desde junho de 2022, quando o ciclo de alta parou, dando lugar a uma pausa e, posteriormente, a um afrouxamento que se iniciou em agosto de 2023. A última vez que o juro de referência esteve neste patamar foi em fevereiro de 2022.

Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, a autoridade cita:

"Esse movimento citado no comunicado deve se manter. O mercado de renda fixa já coloca a Selic em 11,50% até o fim do ano, embora alguns analistas, como o ex-secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, apostem nos 12%", avalia Alexandre Dellamura, mestre em economia e chefe de conteúdo da Melver.

Para Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, mais duas altas devem chegar, mas talvez não seja preciso levar o aperto para tão longe. "Agora é outra dinâmica, vamos acompanhar outros movimentos que vão tirar a necessidade deste aperto tão forte como vemos na curva de juros futuros", diz.

Segundo Danilo Igliori economista-chefe da Nomad, mesmo sem o chamado forward guidance (indicação dos próximos passos),o Copom não quis deixar dúvidas de que farão o que for necessário para trazer a inflação para a meta. "O movimento de hoje deve contribuir para o processo de recuperação da credibilidade do colegiado”, avalia

Como chegamos até aqui?

A elevação era amplamente esperada pelo mercado, com 77,5% dos agentes apontando nesta direção, segundo o Termômetro do Copom do Valor Investe. Há algumas semanas, o diretor e possível futuro presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, sinalizou que um novo ciclo de aperto poderia se iniciar em breve.

Desde então, as apostas variavam entre alta de 0,25 ou 0,50 ponto. Um dos motivos para inverter uma tendência de queda, vista no início do ano, foi a desancoragem das expectativas da inflação. Semana a semana, os economistas participantes do Boletim Focus afastavam suas projeções da meta de inflação do BC, de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo.

A decisão de aumentar os juros neste momento, logo quando os Estados Unidos, começaram o ciclo de corte, vai além de combater uma inflação que promete subir nos próximos meses. Ela é também uma mensagem do BC para passar a confiança de que a autoridade está comprometida em perseguir a meta do índice de preços.

"O ambiente é de atividade econômica forte, câmbio depreciado e desconfiança em relação à capacidade do governo de equalizar as contas públicas", afirma o economista e assessor da Rj+ Investimentos Bruno Monsanto. Segundo ele, o real poderia se beneficiar bastante com a redução de juros nos EUA, mas o quadro fiscal pode jogar água no nosso chope e reduzir o fluxo de capital estrangeiro que viria para o Brasil. Por isso, se a confiança não melhorar, boa parte desse fluxo deve ir para outros emergentes e para o Japão que vem sinalizando aumentos de juros.

O especialista lembra que apesar de o IPCA de agosto ter apresentado deflação de 0,02%, um pouco melhor do que o esperado, o índice segue fora de controle. "Os núcleos do índice acompanhados pelo BC tiveram uma leve melhora. Já a bandeira tarifária de energia elétrica representa uma das pressões inflacionárias que preocupam", acrescenta o especialista. Outro ponto de preocupação são os efeitos do período de seca severa que ameaça a produção de alimentos.

De acordo com Vinicius Moura, economista e sócio da Matriz Capital, além da inflação, o BC vem olhando para fatores como o mercado de trabalho aquecido, que atingiu a menor taxa de desemprego em 15 anos e elevação dos salários reais. "Essa dinâmica pode gerar pressões inflacionárias adicionais, principalmente no setor de serviços, que é intensivo em mão de obra", diz.

O câmbio também tem peso sobre a política monetária. O rali do dólar em junho ainda poderá ser sentido nos meses seguintes, apesar do arrefecimento da moeda ante o real. "A depreciação do real em relação ao dólar ao longo do ano contribui para o aumento dos custos de produção, principalmente de bens industriais que utilizam insumos importados. Essa pressão nos custos pode se transmitir para os preços ao consumidor, impactando a inflação", afirma Moura.

Esses estão entre os motivos que justificam esta alta, dando início a um novo ciclo de aperto monetário, que deverá ser mais curto que o anterior. A partir deste cenário, o entendimento é de que seria necessária uma taxa maior para levar a inflação à meta.

De acordo com Rodrigo Sgavioli, chefe de alocação da XP Investimentos, a perspectiva é de que as reduções nos EUA cheguem a dois pontos percentuais, enquanto no Brasil, a alta poderá seguir até 12% ao ano, ou seja, alta de 1,5 ponto do atual patamar. Para a maioria do mercado, a Selic não deve voltar a cair até o fim de 2025.

Lucas Almeida, especialista em mercado de capitais e sócio da AVG Capital, lembra que o Produto Interno Bruto (PIB) mais forte que o esperado também é fator de preocupação da autoridade monetária.

"O hiato do produto, que mede a diferença entre o potencial e a produção real da economia, também aponta para um cenário de superaquecimento, o que gera mais inflação. Por fim, as incertezas fiscais, com o déficit público maior do que o esperado, aumentam a necessidade de controle inflacionário para manter a confiança dos investidores", afirma.

Leia o comunicado na íntegra

O ambiente externo permanece desafiador, em função do momento de inflexão do ciclo econômico nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário externo, também marcado por menor sincronia nos ciclos de política monetária entre os países, segue exigindo cautela por parte de países emergentes.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo maior do que o esperado, o que levou a uma reavaliação do hiato para o campo positivo. A inflação medida pelo IPCA cheio assim como medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.

As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,4% e 4,0%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o primeiro trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,5% no cenário de referência (Tabela 1).

O Comitê avalia que há uma assimetria altista em seu balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.

O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal, junto com outros fatores, tem impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.

O cenário, marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, demanda uma política monetária mais contracionista. Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 10,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.

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